quinta-feira, 19 de julho de 2012

O desafio da educação de adultos


"Apenas 1 em cada 4 brasileiros domina leitura, escrita e matemática, segundo pesquisa" fonte UOL Educação

Conhecimento é liberdade. Diriam alguns, em contestação, que não o conhecimento, mas a verdade é que liberta, como se ela pudesse ser alcançada em um átimo, negligenciando os processos naturais de percepção e pensamento. Além de gnóstica, esta é uma ideia que favorece a estupidez orgulhosa e impede o desenvolvimento do saber.
Quando insisto que o conhecimento é de importância crucial na vida das pessoas, é porque observo que essa ignorância apresenta obstáculos que as impedem de amadurecer seu caráter e fortalecer sua personalidade. Pessoas sem conhecimento são inseguras, medrosas e fúteis. Paradoxalmente, talvez para compensar essas fraquezas, desenvolvem uma altivez, uma empáfia e uma intolerância que as paralisa em seus imaginários limitados.

O problema maior não é a ignorância em si mesma, mas sua consequência óbvia: a ignorância da própria ignorância. O homem sem consciência de que não sabe, não tem porque buscar o que não conhece. Pelo contrário, imaginando que a existência está circunscrita ao que compreende, sequer imagina que podem existir verdades superiores intocadas por ele. Pior, como ele acredita que o que conhece é tudo o que existe, vê-se como um sábio.

Esse é o grande desafio de um programa educacional para adultos. Grande parte de meus alunos que me procuram para aprender Teologia ou Filosofia desejam aprender. No entanto, não têm ideia do quanto eles não sabem. Se não são preparados desde o princípio a duvidarem de seus próprios conhecimentos e a respeitarem o universo que há muito além deles, podem encontrar obstáculos intransponíveis, criados pela sua própria auto-imagem. É realmente necessário que esses alunos compreendam que seus conhecimentos adquiridos são uma parte pequena do todo e, mais ainda, que a própria forma de pensar e seus conceitos fundamentais podem estar contaminados pelas racionalizações modernas que mais paralisam do que desenvolvem.

Formas de pensar equivocadas, invariavelmente, conduzem a conclusões equivocadas. Nesse caso, não basta que as premissas sejam corretas se a compreensão delas, pelo aluno, é diferente da apresentada pelo professor. Por isso, o educador não pode se limitar apenas à construção de uma lógica formal das ideias apresentadas, mas, principalmente, deve se preocupar com a comunicação. A principal atenção de quem ensina deve estar na problemática da apreensão do aluno, se ele está captando a mesma ideia emitida pelo mestre. De nada adianta conceitos exatos se eles não forem compreendidos da forma como os compreende o próprio professor.

Diante dessa realidade, é inescapável questionar-se como podem adultos tão mal preparados se formarem em cursos universitários ou outros que prometem qualquer tipo de diploma, se sequer conseguem compreender o que lhes está sendo ministrado? Obviamente, grande parte dos que saem dessas cadeiras não será de bons profissionais. Sequer pode-se afirmar que estão aptos a exercer qualquer tipo de atividade que exija algum procedimento intelectual minimamente elevado. Se nem mesmo entendem o que lêem, como produzirão algo de valor superior?

Por isso, quem se propõe a ensinar adultos não pode negar tais dificuldades. Deve enfrentá-las com honestidade. Nenhum curso para adultos, neste país, que forma tão mal seus jovens, que sequer consegue bem alfabetizá-los, pode ser ministrado sem alguma preparação prévia: de fundamentos, de consciência e de força espiritual. Sejam cursos livres, sejam universidades, se não fizerem nada para aliviar tais deficiências, devem ter suas emissões de diplomas consideradas fraudes, sujeitas à prisão, conforme a lei.