Talvez a melhor estratégia para bem escrever seja pensar em si mesmo como o leitor; na verdade, como o único leitor. Isso porque o que corrompe a pureza das ideias é a intenção de convencer ou de ser reconhecido. Quando se escreve para os outros, sempre há o risco de trair a si mesmo.
É verdade que escrever, como se para Deus escrevesse, poderia ser uma opção até mais eficiente, quando se busca a profundidade nas palavras. O problema é que a pequena fé pode estragar tudo. Ela, provavelmente, falsearia o ato, substituindo Deus por um ídolo.
Eu sei que escrever para mim mesmo não está isento de falsificações. O eu pode ser apenas a personificação do público, dando a aparência de sinceridade ao que continua sendo afetação. Mesmo assim, ter a si como destinatário dos escritos me parece a escolha mais eficiente que um escritor pode fazer.
Para os mais corajosos, no entanto, e menos preocupados com sua própria reputação, que tal a experiência de escrever como se para o diabo o fizesse? Sim, ele já os conhece, sabe seus defeitos, vê seus medos e presencia seus pecados (diga-se, de passagem, com prazer, pois muitos destes foram provocações diretas dele).
Dessa forma, suas letras têm a possibilidade de ser honestas. Não porque o diabo mereça honestidade, mas para anular sua acusação.
Quando se escreve já derrotado, já condenado, já reduzido, o que permanece é uma tinta purificada pela pretensão já expurgada. Após isso, resta apenas o arrependimento e o perdão.
O diabo de leitor