quinta-feira, 10 de março de 2011

O vácuo

Não existe ninguém que não sinta, de vez em quando, a sensação do vazio, da distância, do abandono. Isso porque não somos o tudo, e entre nós e Deus há uma certa separação. Se fôssemos o tudo seríamos Deus, se estivéssemos inseridos totalmente no todo, Deus seria a própria natureza, o que rejeitamos totalmente.


Esse vazio, perceba, é o teu impulso, o teu motor. Como buscar a Deus se já estivéssemos plenamente nEle? Se O buscamos é porque há, sim, alguma separação e, entendo, eternamente haverá. Seremos, sempre, suas criaturas, feitas por um ato inicial seu, que carregam, sim, efeitos diretos de Seu ser. No entanto, jamais seremos Ele, e sempre necessitaremos dEle.


Ora, se há uma necessidade eterna, há, também, uma dependência eterna. E se há ambas há, obviamente, uma eterna separação. Homem algum, de época alguma, pôde se inserir completamente em Deus. Por mais santo, mais puro, mais fiel que seja, sempre haverá um vácuo, um vazio, uma distância.


Bendita separação! É ela que mantém nossos olhos no Pai. Por ela, percebemos que o abismo se encontra logo ali, entre nós e Deus. Não, o inferno não está lá atrás; está, sim, bem ali na frente. E todos caminham em sua direção. O mais irônico disso tudo, é que, de uma maneira ou de outra, esse inferno muitos encontram em seus caminhos em direção a Deus.


O inferno se encontra no fundo de um vale, cercado de um lado pelos homens e de outro pelo paraíso. Os que nele caem, normalmente seguiam para o lar de Deus, mas se depararam com um abismo sem ponte. Largo abismo, e gigante!


Quantos não tentam se achegar a Deus por suas próprias forças. Porém como, se não podem suplantar a distância? Há diversos homens que acreditam em seus caminhos, sua fé, suas religiões, acreditam que podem vencer o espaço que os separa de Deus, mas terminam por descer mesmo ao abismo. 


Isso porque nada pode ser ponte entre nós e Deus. Absolutamente nada! Todas as coisas que existem têm uma limitação intrínseca e não chegam sequer a tangenciar Deus. Onde terminam sua existências não começa a de Deus, mas, sim, o vazio. Deus, às vezes, está logo ali, mas jamais junto. Isso ocorre porque a criatura se estivesse ainda que tangenciando Deus, de alguma maneira se tornaria Ele, o que é impossível.


Há uma distância, irrevogável distância. 


Tristes dos homens que não percebem isso. Sofrem por uma plenitude inalcançável, por uma pureza impossível, por uma unidade com o divino inconcebível. São infelizes porque buscam o salto, o encontro com Deus por meio de um lanço. São petulantes, crendo poder ser um com Deus, sem escalas, sem mediadores, esforçando-se inutilmente por isso.


Entendem então porque Cristo? Ele é a ponte, Ele a ligação possível; e somente Ele.


Ainda há alguma dúvida sobre sua divindade? Pensem: Jesus Cristo é Deus, sim; pois apenas Deus pode ligar-nos a Deus. Todas as outras coisas e pessoas são incapazes disso, intrinsecamente incapazes. Por suas estruturas naturais, estão eternamente separadas do Deus Eterno, não podendo preencher o vácuo, a distância.


Dizem que Cristo morreu em nosso lugar, porque não havia homem algum sem pecado. Não creio nisso. Ainda que houvesse homem sem pecado, não teria este o poder de fazer-nos juntos a Deus. Ainda que puro, seria limitado, naturalmente limitado.


Mas Cristo é Deus. Preencheu a distância sendo homem, possibilitou o encontro sendo Deus. Se fosse apenas homem, o vácuo permaneceria; se fosse apenas Deus não faria a ponte, o contato.


Jesus é a linha que permite o homem tanger Deus. Tênue e maravilhosa linha, que mantém homem e Deus eternamente juntos.