quinta-feira, 31 de março de 2011

Porque sou contra a Teologia da Libertação

Algumas pessoas não entendem porque me debato contra a Teologia da Libertação e seus adeptos mais modernos. Acham que é apenas por uma questão ideológica e política e, por isso, tendem a interpretar minhas opiniões como se fossem apenas uma expressão política conservadora contra o progressismo dos outros.

No entanto, apesar de haver uma real discordância política de minha parte (mesmo eu não possuindo qualquer ideologia e não sendo adepto de qualquer vertente política definida), a principal razão de minha objeção é muito mais profunda e muito mais teológica.

Posso resumir da seguinte maneira: 

Em nenhum momento os evangelhos ou as epístolas indicam que devemos fazer algum esforço para mudar o mundo, no sentido de criar revoluções e impor nossas ideias de sociedade perfeita sobre as outras pessoas. O que eu aprendo do Novo Testamento bíblico é que, ressurretos em Cristo, somos novas criaturas, que têm ainda, de maneira acidental, o mundo carnal como algo a ser suportado, com todas as suas mazelas e tribulações. Como seres espirituais, o que nos importa, agora, são as coisas do espírito, sabendo que as coisas da carne ainda nos acompanham até que a redenção venha por completo.

Por isso, não quero mudar o mundo, pois sei que um reino messiânico será imposto a todos, não conquistado pelos homens. Também sei que todas as tentativas de impor um mundo melhor, por parte dos homens, acabaram em tragédias e genocídios.

Isso não é escapismo, porque essa bendita esperança não me exime de todas as responsabilidades de amor, trabalho e testemunho que tenho nesta vida. Porém, isso não me faz ser apegado a ela, já que não pertenço mais a ela, desde que me foi dada uma nova natureza em Cristo Jesus.

Isso bate de frente com que homens como Leonardo Boff e Frei Beto acreditam. E também Ricardo Gondim e Ed René Kivitz (para citar ainda dois baluartes da teologia protestante brasileira mais atual).

Eles crêem, sinceramente, que este mundo precisa ser transformado pela força humana, que nós cristãos somos responsáveis por isso e que o amor pelo temporal tem tanto ou mais importância do que o amor pelo eterno.

Bom, cada um ama o que acredita ser o mais importante. Eu, no entanto, ainda coloco toda a minha fé no incorruptível, pois sei que dele não me surgirão frustrações.

terça-feira, 29 de março de 2011

A naturalidade do triunfo da verdade

A história da relação de Deus com o mundo não é a história da luta entre o bem o mal. Erram aqueles que acreditam que há uma batalha e que Deus, pelo fato de ser mais forte que Satanás, vencerá no final. 

sábado, 26 de março de 2011

Humano, não mundano

A despeito do post anterior, diferente de muitos pensadores moderninhos, eu não sou alguém que fica exaltando a imperfeição como algo bonito, algo que nos torna mais "humanos" ou algo que nos faz mais sensíveis. Isso é besteira. Imperfeições são imperfeições e a perfeição sempre é melhor do que a imperfeição.

Há alguns pregadores que exaltam tanto a imperfeição humana que parece que buscar ser melhor, mais puro, mais santo é o verdadeiro pecado. Parece que interpretam as palavras da Bíblia como aqueles homens da igreja primitiva que diziam que deveriam pecar bastante para que a graça de Deus superabundasse sobre eles.

No entanto, Paulo mesmo os corrigiu. Hoje, portanto, esse negócio de exaltar a falibilidade e a imperfeição humanas é simplesmente mundanizar a igreja sob a desculpa de um amor divino.

A limitação humana não é para ser exaltada, é para ser compreendida. Ela também não deve servir como desculpa para os erros, mas explica-os.

Então, deve resignar-se, o cristão, com seus pecados? De maneira alguma! A conformidade com o curso deste mundo não é o ideal do cristão. O que ele deve empreender é uma busca por mais santidade, sim, por menos pecado, sim, por mais pureza, sim. No entanto, deve fazer isso consciente de sua estrutura humana, de sua falibilidade. Assim, empreenderá essa caminhada, não mais crendo que, com suas próprias forças, poderá atingir níveis de conduta irreprensíveis; mas, sim, com a direção do Espírito Santo, crescerá como quem está sendo transformado para se tornar cada vez mais parecido com Cristo.

E a perfeição? É o norte, o objetivo inalcançável, porém que atrai cada vez mais para o que é melhor, tornando o imperfeito cada vez melhor.




sexta-feira, 25 de março de 2011

Consciência da limitação

Percebo, em muitos novos convertidos, uma ansiedade manifesta. Eles acreditam e esperam que um dia poderão atingir um nível tal de espiritualidade que viverão como que à parte dos problemas deste mundo. Crêem que a evolução de suas vidas religiosas terá o poder de arrancá-los das perturbações desta vida e elevá-los a um nível praticamente estóico de existência.

No entanto, infelizmente, essa não é a realidade.

Além de considerar a própria declaração de Cristo, que nada mais era do que uma constatação, de que no mundo teríamos aflições, há algo que também não podemos ignorar: nossa estrutura limitada é a própria causadora de tudo isso. Independente dos poderes angélicos que atuem nos domínios deste mundo, o próprio homem, em sua disposição natural, já enfrenta as tensões não apenas psicológicas, mas inclusive físicas. São impossibilidades, parcialidades, oposições que, por causa da limitação natural, estão impregnadas em sua existência.

Por isso, é necessário ter consciência de que haverá sempre levantes externos contra a nossa sanidade, contra o nosso equilíbrio. Os fatores alienantes também estarão sempre presentes e todo passo para a perfeição é apenas um reconhecimento mais profundo de nossa imperfeição.

Mesmo que fossemos ermitões, sobrariam ainda os próprios conflitos internos, naturais e irrenunciáveis.

Portanto, sábio é ser consciente da estrutura humana, lidando com os fatores opositores não como inimigos externos, mas como caminhos naturais que precisam ser ultrapassados - sempre com muito cuidado.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Mais do que imagina a vã teologia

Basta ocorrer um desastre natural, como esse de proporções grandes que ocorreu no Japão, para, neste mundo interconectado, iniciarem-se as velhas e mesmas discussões. De um lado, os que defendem o controle absoluto de um Deus que determina até os mínimos detalhes da ação humana, de quem nada escapa e que é, no fim, o responsável final por todas as coisas; de outro lado, um Deus impotente, que, por não ter qualquer controle sobre a história do mundo, se surpreende e até chora com as mazelas da humanidade. 

Ora, para mim, sem querer parecer arrogante, como quem se coloca acima dos litígios, tudo isso me apresenta como uma discussão bastante pueril. Fica mais ou menos claro que ambos os lados se apegam a extremos de compreensão que não permitem qualquer tipo de maleabilidade para a atuação divina. Não são apenas os cristãos deterministas que encaixotam Deus, os teístas abertos também. Se aqueles não permitem a Deus qualquer forma de atuação espontânea, fora dos preceitos pré-determinados teologicamente, estes aprisionam a divindade em uma liberdade sufocante, pois se Deus não possui o controle das coisas, é, Ele mesmo, um prisioneiro do destino.

O que eles não percebem é que entre o Deus do controle absoluto e o que chora impotente há muito mais coisas do que imaginam suas vãs teologias.

Ainda vou preparar um texto mais detalhado sobre esse assunto, mas, por ora, já é o suficiente.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Ponha-se no seu lugar

Ao falar sobre consciência em minha última aula, uma aluna parece ter dado a melhor explicação sobre o que é realmente consciência - explicação melhor do que eu mesmo pude oferecer. Disse ela que entendeu o que era quando ouviu, pela primeira vez, alguém dizendo: "Ponha-se em seu lugar!". Isso porque ela sabia exatamente qual era o lugar dela. 

Procurando uma boa definição sobre consciência, esse exemplo talvez seja a melhor ilustração possível. Se ela é a percepção do ser e a identificação do eu, nada melhor do que saber-se quem é e onde está (ou onde deve ficar).

terça-feira, 22 de março de 2011

Definição de consciência

Apenas percebi a dificuldade de conceituar consciência quando tentei fazer isso na minha última aula do curso de Teologia do NEC. Eu sei o que é consciência, mas explicar não é fácil, não. Fui então buscar em alguns livros e percebi que essa dificuldade é geral. Entendo  consciência como a percepção dos dados imediatos, de si, do eu, da diferença, das relações; é a identificação da existência individual. Bom, é o que eu consegui dizer, mas será esta explicação satisfatória? Vou procurar mais e espero poder encontrar uma boa definição.

quinta-feira, 17 de março de 2011

O verdadeiro conservadorismo

"O verdadeiro conservadorismo é o progresso que provém do passado e cumpre o que é bom; o falso conservadorismo é uma limitadora e desesperançada volta ao passado, e que trai a promessa do futuro"

Newman Smith, Christian Ethics

quinta-feira, 10 de março de 2011

O vácuo

Não existe ninguém que não sinta, de vez em quando, a sensação do vazio, da distância, do abandono. Isso porque não somos o tudo, e entre nós e Deus há uma certa separação. Se fôssemos o tudo seríamos Deus, se estivéssemos inseridos totalmente no todo, Deus seria a própria natureza, o que rejeitamos totalmente.


Esse vazio, perceba, é o teu impulso, o teu motor. Como buscar a Deus se já estivéssemos plenamente nEle? Se O buscamos é porque há, sim, alguma separação e, entendo, eternamente haverá. Seremos, sempre, suas criaturas, feitas por um ato inicial seu, que carregam, sim, efeitos diretos de Seu ser. No entanto, jamais seremos Ele, e sempre necessitaremos dEle.


Ora, se há uma necessidade eterna, há, também, uma dependência eterna. E se há ambas há, obviamente, uma eterna separação. Homem algum, de época alguma, pôde se inserir completamente em Deus. Por mais santo, mais puro, mais fiel que seja, sempre haverá um vácuo, um vazio, uma distância.


Bendita separação! É ela que mantém nossos olhos no Pai. Por ela, percebemos que o abismo se encontra logo ali, entre nós e Deus. Não, o inferno não está lá atrás; está, sim, bem ali na frente. E todos caminham em sua direção. O mais irônico disso tudo, é que, de uma maneira ou de outra, esse inferno muitos encontram em seus caminhos em direção a Deus.


O inferno se encontra no fundo de um vale, cercado de um lado pelos homens e de outro pelo paraíso. Os que nele caem, normalmente seguiam para o lar de Deus, mas se depararam com um abismo sem ponte. Largo abismo, e gigante!


Quantos não tentam se achegar a Deus por suas próprias forças. Porém como, se não podem suplantar a distância? Há diversos homens que acreditam em seus caminhos, sua fé, suas religiões, acreditam que podem vencer o espaço que os separa de Deus, mas terminam por descer mesmo ao abismo. 


Isso porque nada pode ser ponte entre nós e Deus. Absolutamente nada! Todas as coisas que existem têm uma limitação intrínseca e não chegam sequer a tangenciar Deus. Onde terminam sua existências não começa a de Deus, mas, sim, o vazio. Deus, às vezes, está logo ali, mas jamais junto. Isso ocorre porque a criatura se estivesse ainda que tangenciando Deus, de alguma maneira se tornaria Ele, o que é impossível.


Há uma distância, irrevogável distância. 


Tristes dos homens que não percebem isso. Sofrem por uma plenitude inalcançável, por uma pureza impossível, por uma unidade com o divino inconcebível. São infelizes porque buscam o salto, o encontro com Deus por meio de um lanço. São petulantes, crendo poder ser um com Deus, sem escalas, sem mediadores, esforçando-se inutilmente por isso.


Entendem então porque Cristo? Ele é a ponte, Ele a ligação possível; e somente Ele.


Ainda há alguma dúvida sobre sua divindade? Pensem: Jesus Cristo é Deus, sim; pois apenas Deus pode ligar-nos a Deus. Todas as outras coisas e pessoas são incapazes disso, intrinsecamente incapazes. Por suas estruturas naturais, estão eternamente separadas do Deus Eterno, não podendo preencher o vácuo, a distância.


Dizem que Cristo morreu em nosso lugar, porque não havia homem algum sem pecado. Não creio nisso. Ainda que houvesse homem sem pecado, não teria este o poder de fazer-nos juntos a Deus. Ainda que puro, seria limitado, naturalmente limitado.


Mas Cristo é Deus. Preencheu a distância sendo homem, possibilitou o encontro sendo Deus. Se fosse apenas homem, o vácuo permaneceria; se fosse apenas Deus não faria a ponte, o contato.


Jesus é a linha que permite o homem tanger Deus. Tênue e maravilhosa linha, que mantém homem e Deus eternamente juntos.