quarta-feira, 7 de julho de 2010

O Olhar Elevado

A satisfação da necessidade por sexo, comida, bebida, sono e lazer é o que há de comum em praticamente todos os animais. São necessidades triviais para as quais eles vivem toda a sua vida. A glória, ou a busca por reconhecimento pessoal, já é algo comum a Satanás, o pai da soberba e do orgulho. Toda sua existência é direcionada para o recebimento do louvor que não lhe cabe.

O homem carnal, ainda que no exercício de atividades supostamente elevadas moral e intelectualmente, tem, como fim, o realizar o básico da vida: prazer e necessidade. Até mesmo quando luta como um espartano, o que busca é a satisfação pessoal baixa ou a glória humana. Mesmo na renúncia há um amor próprio corruptor, que desvia os motivos para a mais abjeta ordinariedade.

Se alguém se mantém agrilhoado à trivialidade das paixões, de nada se difere de seu próprio cão, pois este busca, e quase sempre satisfaz, os mesmo desejos que tem o homem comum. Se, mais ainda, esse alguém corre para receber a glória que não lhe é devida e se esmera para receber louvor dos homens, se equipara ao diabo, rebaixando sua existência à inferioridade dos anjos caídos.

Quando nasce um novo homem espiritual, no entanto, aquele que se submeteu a Cristo há de observar uma transformação que está além das manifestações exteriores de santidade. Ocorre, sim, uma mudança de referência, pois o que antes era uma vida direcionada à satisfação das necessidades mais vulgares, se transforma em uma existência voltada para o que há de mais elevado espiritualmente.

Os olhos desse novo homem estão fixados no céu, não por um escapismo covarde, mas como meta e referência que transmuta as questões humanas em meros aborrecimentos, às vezes necessários, que precisam ser suportados por uma questão de sobrevivência física e moral.

O olhar elevado é o suporte de uma vida plena, aquela mesma vida abundante que Jesus Cristo disse que teríamos com Ele. Sem negar as necessidades básicas, mas mantendo-as em seu devido lugar, na base das necessidades humanas, o homem espiritual enxerga o que é impossível ao homem carnal: a existência de algo maior, ainda neste mundo, além do que é comum.

O olhar elevado transforma os problemas em pequenos aborrecimentos, e os males em incômodos passageiros. O olhar elevado, ainda, faz o homem enxergar as coisas de uma posição um tanto mais privilegiada, como o observador estrangeiro que vê as alturas das torres da cidade desde fora, como chegou a dizer, num lampejo de sabedoria, Nietzsche.

Sem escapismo e sem alienação, o homem novo, espiritual em sua essência, não nega a matéria, o corpo, a vida material, mas coloca tudo isso em seu devido lugar: na base da pirâmide das necessidades e dos objetivos, sabendo que além do que pode ver, mais do que pode supor, e até compreender, existe uma vida muito mais rica, doada pelo Autor da Existência, que é Deus.