quarta-feira, 6 de maio de 2009

Exatamente como somos

Em um mundo no qual as máscaras são nossas companheiras, verdadeiras fortalezas que permitem a nossa sobrevivência, quem pode renegar, ainda que sejam apenas alguns instantes, a chance de experimentar momentos de limpidez, de sinceridade e transparência?


Nós, que nos embotamos com o sufocar das aparências, escravos que somos do outro, do que pensa, do que diz, perderemos a oportunidade de, ao menos por alguns instantes, podermos ser nós mesmos, nus em nossa alma?

E se há um olhar onisciente, do qual nada escapa, nem o mais profundo de nossas entranhas, nos fatigaremos em tentar esconder o que sentimos, mesmo sabendo que essa tentativa e vã e inútil?

Há uma chance para todos nós, uma possibilidade de sermos quem verdadeiramente somos, de falarmos exatamente o que pensamos e de abrirmos o nosso coração sem reservas.

Quando estamos diante de Deus, Ele que é onisciente, quando com Ele falamos, nada importa mais. Todas as fábulas e fantasias, toda estética, todo estilo, tudo isso se derrete ante o calor da verdade, ante a força da realidade que há no Senhor do Universo, Criador de todas as coisas.

Se o mundo exige de nós compostura, se os homens nos forçam à simulação, Ele, o Deus da Verdade, arranca as nossas máscaras de ferro, queimando-as como palha. Por isso, Cristo nos ensinou a entrar em nosso quarto e, com as portas cerradas, orarmos ao Pai que vê tudo secretamente[1].

Compreenda, portanto, que Deus sabe do que você necessita, antes de você pedir. Ele conhece você melhor do que você jamais poderia conhecer. Com isso, fica fácil concluir que Deus não está se importando tanto com o que sai de seus lábios, mas, principalmente, com aquilo que sai do seu coração.

A oração é, com efeito, o momento de ser quem somos, sem muros, sem máscaras, sem barreiras. Consciências individuais diante daquele que tudo vê, tudo sabe e tudo julga. Nós, desprovidos de qualquer capa, a quem se oferece a chance de não apenas encontrar Deus que, sem dúvida, se revela, mas de encontrarmos também aquelas almas escondidas que vão se revelar nesse contato espiritual.

Essas almas somos nós, exatamente como somos.

[1] Mateus 6.6