quarta-feira, 23 de maio de 2007

O Cristão e o Velho Testamento

Voltando à questão da homossexualidade acho que nunca chegaremos a um consenso, porque você crê na Bíblia e eu creio na Ciência e vejo a Bíblia como um documento bastante intolerante! (ps. isto não é uma ofensa). Causa-me estranheza também o fato de vários pecados, escritos na Bíblia, tanto no Antigo como no Novo testamento, hoje já não são considerados pecados e a homossexualidade, ainda, permanece como pecado. Este texto, abaixo, é muito interessante e fala sobre isto!
http://www.estudos-biblicos.com/fundamen.html
Até hoje nenhum teólogo, ou pastor ou padre, etc., conseguiu me dar uma explicação convincente!

Johnie Brito



Amigo Johnie, tomei a liberdade de postar parte de seu comentário ao artigo ‘Da República das Bananas à Ditadura Homossexual’, por entender a matéria de interesse de meus leitores. Obrigado por postar aqui e deixe-me tentar lhe expor o meu entendimento sobre o assunto.

É verdade que a Bíblia é intolerante. Mas você precisa entender que ela se declara a verdade e a verdade é intolerante. A verdade não aceita contestação pois a contestação da verdade é a não-verdade, portanto, a não-existência. Se a Bíblia lhe parece intolerante é por uma questão de lógica e não de presunção.

Em relação aos pecados do Antigo Testamento, descritos no link que você postou, é necessário entender o plano de salvação de Deus. Resumidamente é assim: Deus criou o ser humano e este se rebelou em desobediência. Sendo Deus eternamente santo, e não podendo comungar com o que não é puro (impossibilidade natural), precisou criar uma fórmula que justificasse o ser humano, possibilitando o seu relacionamento com Ele. Mas, para isso, um preço precisava ser pago. Como todo pagamento deve ser feito com algo da mesma espécie da dívida, era necessário que um ser humano (ou até mesmo alguns) assumisse a impureza (pecado) dos outros seres humanos. Porém, nunca houve e nunca haverá ser humano puro o suficiente para isso. Portanto, por amor, Deus envia seu filho (que é Deus em essência), para humilhar-se, tomando forma limitada de homem e assumindo, inclusive, a natureza humana, para que ele cumprisse tal dolorosa missão. Jesus vem para morrer pela humanidade e, dessa forma, possibilitar a salvação para todos os homens. Ele é morto, mas como a morte apenas tem força contra o pecado (sentido lato), ela não pode deter aquele que não tinha pecado. O que Deus oferece, a partir daí, é a possibilidade de, apenas crendo e aceitando esse sacrifício como eficaz na minha vida, eu seja justificado (formalmente declarado puro) e possa comungar com Ele.

Este é o plano de salvação. Mas, para entende-lo, é necessário todo um período de preparação e ensinamento que permita que o ato de Jesus seja cognoscível pela humanidade. Aí entra o Velho Testamento. Ele é esse ensino. Se ele é duro, intolerante, sangrento, talvez o seja na ótica do homem moderno. Mas para o indivíduo de seu tempo, ele refletia a realidade de todos os povos. E por essa realidade que Deus ensina o que estava sendo preparado para a salvação do mundo.

A Bíblia ensina assim, em Gálatas 3: 21-25:

“...a lei é contra as promessas de Deus? De nenhuma sorte; porque, se fosse dada uma lei que pudesse vivificar, a justiça, na verdade, teria sido pela lei. Mas a Escritura encerrou tudo debaixo do pecado, para que a promessa pela fé em Jesus Cristo fosse dada aos crentes. Mas, antes que a fé viesse, estávamos guardados debaixo da lei, e encerrados para aquela fé que se havia de manifestar. De maneira que a lei nos serviu de aio, para nos conduzir a Cristo, para que pela fé fôssemos justificados. Mas, depois que veio a fé, já não estamos debaixo de aio”.

O que diz este texto? Que a lei (Velho Testamento) foi o nosso tutor (aio), aquele que ensina a criança até ela encontrar a maturidade. Chegando esta, o homem, não sendo mais criança, não precisa mais dele e pode seguir seu caminho. A humanidade não precisa mais da lei do Velho Testamento, pois ela se encerrou em Jesus. Ainda é um guia de princípios, de compreensão de Deus, mas não possui qualquer força normativa. Vivemos sob a graça de Cristo e nele está o entendimento da verdade. O que fazemos não deve mais ser guiado pela formalidade vazia, mas pela intenção direcionada à vontade de Deus (adoração).

Voltando a colocação da Sra. Laura Schlessinger, foi ela absolutamente infeliz ao querer justificar a pecaminosidade da homossexualidade exclusivamente em um texto do Velho Testamento. Isso é precário. Apesar de ali a Lei expressar que o ato é abominação, diferente de outras regras que não possuem qualquer adjetivação, há textos no Novo Testamento que dizem do descontentamento de Deus com tal prática (Romanos 1.26-27; 1Coríntios 6.9).

Resumindo: o Velho Testamento é apenas um preparativo, um educador, para compreendermos o sacrifício de Jesus por nós. Sem o Velho Testamento, o ato de Jesus seria incompreensível e é por isso que a Bíblia diz que Cristo veio ao mundo na ‘plenitude dos tempos’ (Gálatas 4.4).

Caro Johnie, é provável que eu não tenha lhe convencido, afinal todo o narrado só é possível apreender pela fé. Estou certo, ao menos, que dei-lhe uma explicação lógica, baseada na minha fé, sobre essa questão levantada.

Um grande abraço.

Fabio Blanco